Saúde mental e prevenção ao suicídio marcam Tribuna Popular na Câmara de Rio Branco

por Marcela Jansen publicado 09/09/2025 19h53, última modificação 09/09/2025 19h53

 

Atendendo a requerimento do vereador João Paulo Silva (Podemos), a Câmara Municipal de Rio Branco realizou na terça-feira, 9, uma Tribuna Popular para debater sobre saúde mental e prevenção ao suicídio. A sessão contou com a participação das psicólogas Natércia Monteiro dos Santos e Josiane Furtado da Rocha, que expuseram os desafios e avanços da rede de atenção psicossocial no Acre.

Natércia Monteiro, representante do Centro de Convivência e Cultura Arte de Ser, destacou que o espaço é vinculado à Secretaria Estadual de Saúde, mas enfrenta sérias dificuldades estruturais e orçamentárias. Segundo ela, o serviço nasceu no Hospital de Saúde Mental do Acre (OSMAC) e se consolidou como referência em oficinas livres, práticas integrativas e convivência comunitária.

“É um espaço onde trabalhamos saúde mental de forma livre, aberta, sem distinção entre quem tem ou não transtorno. Oferecemos oficinas, práticas como reiki e auriculoterapia, além de projetos culturais que integram a comunidade. Mas sobrevivemos basicamente de doações e parcerias. É fundamental que os parlamentares também olhem para nós em suas emendas”, afirmou.

A psicóloga ressaltou ainda o impacto positivo do centro na vida dos usuários. “Temos relatos de pessoas que superaram depressões graves por meio da convivência e da arte. Nosso objetivo é oferecer acolhimento e integração, porque saúde mental precisa estar presente no dia a dia, não só em setembro”.

Já Josiane Furtado, psicóloga do Pronto-Socorro de Rio Branco, relatou o aumento alarmante das tentativas de suicídio, inclusive entre crianças e adolescentes. Segundo ela, o Núcleo de Prevenção do Suicídio, criado em 2014, foi reativado pela Secretaria de Saúde diante da crescente demanda.

“Temos recebido crianças de apenas 12 anos por tentativa de suicídio. O atendimento infantil exige atenção especial, porque envolve fatores familiares, sociais e até violência doméstica. Não podemos limitar a campanha apenas ao Setembro Amarelo. Saúde mental deve ser tratada de janeiro a janeiro”, defendeu.

Ela também reforçou a importância da rede integrada para o encaminhamento dos pacientes e criticou a insuficiência de políticas públicas voltadas à área. “Hoje, a cada 40 segundos, uma pessoa se suicida no mundo. Precisamos romper o silêncio, investir em acolhimento, escuta e políticas públicas permanentes”.

O vereador João Paulo, em pronunciamento, destacou a gravidade do tema e fez um apelo para que o debate não se limite ao Setembro Amarelo. “A depressão e a ansiedade são doenças muito graves, que têm tratamento e que não devem ser escondidas. Não é vergonha procurar ajuda, seja com psicólogo, psiquiatra ou mesmo um amigo ou familiar. O poder público precisa tratar a saúde mental como prioridade, porque é um mal do século. Muitas pessoas têm vergonha de falar que sofrem, mas é justamente falando e pedindo ajuda que podemos salvar vidas.”

Ele lembrou ainda que, entre os homens, os índices de suicídio são de três a quatro vezes maiores, reforçando a necessidade de políticas específicas. “Precisamos quebrar o silêncio e olhar a saúde mental como um compromisso diário”, afirmou.

Já o vereador Leoncio Castro (PSDB) ressaltou que a saúde mental precisa ser tratada como prioridade estratégica, com orçamento e políticas públicas efetivas. Ele citou falhas no PPA em tramitação e defendeu emendas para ampliar investimentos.

A vereadora Elzinha Mendonça (PP) lembrou que Rio Branco comportaria até quatro unidades do CAPSi e defendeu a criação de equipamentos específicos para crianças e adolescentes. “A prevenção passa por acolhimento, escuta e políticas públicas. Só assim vamos evitar tragédias”, disse.

Por fim, o vereador André Kamai (PT) afirmou que o tema exige enfrentamento contínuo e não apenas no Setembro Amarelo. Ele criticou a postura “periférica” da Prefeitura em relação à saúde mental e destacou que emendas parlamentares já foram rejeitadas na votação da LDO. “Sem orçamento e política pública, não vamos avançar”, afirmou.